30 maio 2004

porquê?

Porquê agora este desejo de escrever sobre Alcácer do Sal? Acaso ou necessidade? Qual a importância desse lugar tão longínquo na memória e que me leva a recordá-lo com tanta nostalgia? Porque foram talvez os mais belos, esperançosos e importantes momentos da minha vida.
Cheguei a Alcácer com cerca de 7 anos de idade e lá vivi até cerca dos 12 anos (tenho agora 47). Fácil é perceber como aquele é o período mais importante e determinante na formação de uma pessoa. Lá construí muito do meu carácter e personalidade. Lá fiz a escola primária, a partir da 2.ª classe e os primeiros três anos de ensino liceal. Lá fiz os meus primeiros amigos e, sobretudo, cúmplices de aventura e malandrice. Lá fiz as primeiras descobertas e vivi as primeiras e melhores aventuras. Desvelar dum mundo fabuloso, fascinante e miraculoso.
E é isso que quero contar. O que vivi e o que senti naquele lugar longe de tudo. Naquele mundo que era o mundo todo. Conforme for lembrando assim irei aqui colocando estórias, episódios, acontecimentos diversos.
De muitos dos personagens já nem os nomes recordo, de fraca que é a memória. Também hoje já não tenho contacto com nenhum. Ficaram para trás, naquela terra distante. Esfumaram-se quando de lá saí, como génios da lâmpada. Também eu para eles seguramente já não existo e sou apenas uma vaga e difusa recordação dos tempos da escola, da carica, do berlinde e do pião, do salto ao eixo, dos bonecos da bola, das botas-de-borracha, dos calções e das botas cardadas. De tanta coisa, afinal.
Acredito que a memória nostálgica é o motor do eterno retorno e, por isso, para já, oiçamos Zaratustra:

«Entoarei o meu cântico aos solitários; aos que se retiraram sozinhos ou aos pares para a solidão; e a quem quer que tenha ainda ouvidos para as coisas inauditas, confranger-lhe-ei o coração com a minha ventura.»